Em uma roda cheia de médiuns umbandistas o assunto mais falado é a incorporação. Cada um falando da força que sente, o brado do seu caboclo, da risada de seu Exu.
Pouco se fala do que se faz fora dali.
Quando a gira termina e as portas dos terreiros se fecham a mediunidade não passa e a caridade não deve parar.
Muita gente respeita o caboclo parado em sua frente, mas não cuida da natureza que o rodeia.
Gargalha com Exu e Pomba Gira dentro do terreiro, mas perde o respeito do lado de fora.
Ajuda consulente enquanto incorporado, mas vira a cara pra quem pede ajuda na rua todos os dias.
Senta e conversa com um preto velho, mas fora de lá tem falas e atitudes racistas, e não faz o mínimo para aprender e mudar.
Come bolo com o Erê, ri e brinca na festa de Cosme e Damião, mas quando sai de lá esquece que Erê existe ou questiona sua força por se apresentar como uma criança.
É tão fácil falar que é Umbandista, é tão fácil tudo isso do lado de dentro do portão.
E quando a gira termina?
E quando o portão se fecha?
E quando ninguém (encarnado) está olhando?
Cada um tem seu próprio caminho, cada um trilha sua evolução no seu próprio ritmo, eu sei e todos sabem. E não estou falando sobre ser “perfeito”, pois somos todos passíveis de erros. O problema real é que muitos acham que evolução e caridade não se estende do lado de fora. Que o respeito pela umbanda, entidades e Orixás é somente quando estamos na frente deles.
Orai e Vigiai a si mesmo, irmão. Umbanda não é brinquedo, caridade não é hobbie para praticar duas vezes na semana, mediunidade não é sinônimo de “salvação” e a evolução nunca para.
( Texto por umbandanaalma)